16/10/2009

Soneto da Soneto de Intimidade

Soneto de Intimidade


Nas tardes da fazenda há muito azul demais.
Eu saio às vezes, sigo pelo pasto agora
Mastigando um capim, o peito nu de fora
No pijama irreal de há três anos atrás.

Desço o rio no vau dos pequenos canais
Para ir beber na fonte a água fria e sonora
E se encontro no mato o rubro de uma amora
Vou cuspindo-lhe o sangue em torno dos currais.

Fico ali respirando o cheiro bom do estrume
Entre as vacas e os bois que me olham sem ciúme
E quando por acaso uma mijada ferve

Seguida de um olhar não sem malícia e verve
Nós todos, animais sem comoção nenhuma
Mijamos em comum numa festa de espuma.

Vinicius de Moraes

Um comentário:

Giovana Peres disse...

Nossa cara , que blog lindo *---* , sério , é como se estivessemos mesmo sob pingos de chuva . parabéns mesmo , estou seguindo . :*

Benedictus Dominus Deus nosterqui dedit nobis signum.